Caminhava distante pela berma do riacho, quando o "grgr" duma rã me fez despertar.
Na tarde quente que se fazia sentir, acolá, a água queda e turva de uma represa sem que a rã se dignasse aparecer, ou sequer se deixasse olhar.
Procurei em redor mas, da sua existência apenas o eco do "grgr", como se apenas de meu pensamento se tratasse.
Era a tarde quente e pesada, que nem as folhas deixava bulir, em que as sestas iam por meio e as paredes grossas das pequenas e rasteiras casas impediam o calor de entrar. A tarde, já quase dia passado para aqueles que madrugam a caminho das hortas e dos pinhais, era uma tarde da minha infância, quase esquecida, a tarde das cigarras que se fazem ouvir de dentro da vegetação e que agora revivia num dos poucos dias que ali, uma vez mais, decidira passar.
Os ponteiros do relógio não abrandaram a sua marcha apesar de todo aquele sossego e, não demorou até que a noite acordasse.
Sentada agora nalguns degraus do enorme terraço, cheio de plantas e flores cuidadosamente tratadas, local de encontro da família terminadas que eram as lides da casa após o jantar, em que se ouviam histórias caladas e se compartilhavam risos e cantares até então guardados, vislumbrava pirilampos que faziam em terra companhia às incontáveis estrelas do Céu, nítidas e tão perto no firmamento distante.
A lua iluminava de prata os recantos mais sós, montes e vales com sua vegetãção própria, que na distância se perdiam.
E, tão só bastava que se fechassem os olhos para que se ressuscitasse na manhã seguinte ao relento... e os passarinhos cantavam algures, o Sol já sorria para encorajar de novo o dia... era a entrega total às maravilhas da natureza, que no silêncio da noite e à luz do dia comungam com o Criador, quando o homem se dispõe a parar e a olhar em redor.
E, porque os ponteiros do relógio não pararam, vivem hoje as recordações e a saudade de uma linda casa que o fogo devorou mas que, da lembrança não apagou.